Sobre mim

Em construção...

Sujeito quirinopolino, mineiro mato-grossense.
Primeiro mato-grossense das margens do córrego Enxadão;
onde minha memória de gente nasceu e crescente se faz até hoje;
onde minha mente nasceu para alegria-solidão e paz-insatisfação diante do desconhecido
(insatisfeito até hoje por não ser mais simples mato-grossense:
criança feliz nas noites escuras sem a presença do cruzeiro-do-sul,
sem ter ideia do que é ser desprezado e humilhado, sem conhecer a crueldade).
Depois mineiro de planaltos capitalistas que deslumbravam meus sentidos inocentes;
onde, depois de ter voltado do Mato Grosso à minha terra natal,
na infância ia me divertir entre o comércio dos retirantes mato-grossenses;
onde na adolescência fui buscar alguns sonhos e tive minhas primeiras frustrações.
Agora, quirinopolino novamente. Terra onde nasci, de onde fugi, onde estou escondido;
e que me faz ser um pouco do que sou.

E se o assunto é terra, agrada-me.
Agrada-me o cheiro da terra e tudo que se produz dela:
os campos que nascem puros, os homens puros em que brotam amores,
a vida livre e sadia que ecoa sorrisos, flores, cânticos e mais amores.
Mas num certo momento, parte disso se perdeu.

E os homens que eram puros, agora sujos, simplesmente pisoteam a terra.
E a imagem do que era belo se deteriora na mente de homens corrompidos.
E os nomes que eram belos perdem seu valor.
E os nomes horríveis são escolhidos para representar as ideias feias de alguns homens, 

e assim se evita a hipocrisia dos homens e se desvaloriza a beleza da terra.
A minha terra tem um nome feio, que não representa sua beleza e grandeza.
A minha terra tem um nome-coronel, que representa bem os reles coronéis que viveram nela, e os que ainda vivem.
O pior da minha terra não é o nome, mas o coronelismo burro que intimida e aprisiona as ideias dos homens amantes da essência da terra.


Eu sou amante da terra;
eu amo Goiás, eu amo o Triângulo Mineiro,
eu amo o sertão mato-grossense.
Mas meu amor não se contrai nas divisas territoriais.
Eu amo, desde criança, as noites silenciosas e escuras,
que me permitiram ouvir minha alma e enxergar luz em sua profundeza.
No meio do mato, onde às vezes as estrelas não brilhavam, 
minhas pupilas se dilatavam para enxergar o brilho da vida. 
No lugar onde eu devia ter medo — medo do escuro, da imaginação,
da solidão, da ignorância, da selvageria —, eu vivi sem medo.
Eu nunca fui das trevas. 
Meu coração puro foi um prisma que polarizou minhas virtudes,
e as irradiou diretamente sobre meus medos externos.
Onde havia trevas se sobressaiu raios de esperança.

Sempre amanhecia à beira daquele monte sem nome
— ponto que me situava: avisava-me de que estava chegando à morada isolada, 
ou fazia cessar minhas despedidas quando se escondia no horizonte.
Aquele monte, quando eu estava longe de casa, parecia estar tão próximo de tudo; 
parecia que era parte do quintal.
Mas quando, na chegada, eu abria a última porteira, eu percebia sua distância. 
Porque ali eu nem o via ficava coberto por morros sem valor, 
que se aproveitando dum ângulo favorável ofuscavam a glória do proeminente.
É triste lembrar que nunca fui ao monte mais opulento das cercanias. 
Não era tão alto, mas era o que se tinha. 
Engraçado que era calvo; e eu, depois de alguns anos, também me tornei.
Sempre desejei ir até lá para saber se havia gado, 
se era vegetação nativa, ou se eram pastagens inúteis.
Os meus cabelos eram inúteis. Por isso não sinto saudades.
Mas o monte redondo faz falta.