As Crônicas de Little Ant: Uma Jornada em Busca de Liberdade — Parte IV

sexta-feira, 30 de setembro de 2011 § 0

Liberto do sonho, e para atender ao pedido de Little Ant, Straw partiu para um breve sobrevoo a fim de conhecer as redondezas. Já nas savanas, ele avistou uma esperança – o que foi possível por causa do contraste entre ela e a casca marrom de um pequeno tronco caído – e decidiu aproximar-se...
– Olá! A senhora por acaso saberia em qual direção está os campos onde posso encontrar zebras?
– Jovem... Eu já vi muitas coisas em minhas migrações, e uma das mais cruéis é obra das zebras. Elas pastam cegamente, ferozmente. Muitos de meus amigos foram mastigados juntos com capim... Sem consideração alguma... Muita crueldade! Você não gostaria de conhecer esses animais... Com certeza não.
– Não se preocupe comigo, eu sou como uma joaninha: engraçado, mas casca dura.
– Por que este interesse pelas zebras, meu filho?
– Olha, eu preciso encontrá-las para ajudar alguém...
– Mas você não parece do tipo que gosta de ajudar as pessoas...
– Olha, não me critique, eu não sou como os efemeropteras que não precisam se alimentar – disse Straw, interrompendo a esperança.
– Hum, imagino que não. Está bem. Siga o caminho dos besouros esquisitos – disse a esperança, apontando para os tais.
– O que a senhora quer em troca da informação?
– Nada, meu filho. Eu simplesmente gosto de ajudar.
Straw agradeceu a ela, timidamente, e partiu meditando sobre as palavras que acabara de ouvir. Encontrou Little Ant caminhando, e então estabeleceram a rota correta. Por causa do enfado da peregrinação, Little Ant pediu a Straw para contar uma distração. Satisfeito com o pedido, Straw instantaneamente iniciou a narrativa:
– Eu conheço um cara: Owlfly. Ele é o cara! Ele é o Owlfly! Um dia eu estava prestes a dormir uma sonequinha da tarde, perto duma lagoa, quando o avistei voando daquele jeito bem típico deles. Ele vinha voando bem baixinho, e embaixo dele havia muitos sapos, mas muitos mesmo! Parece que ele nem os via, eu não sei; ele parecia estar muito distraído. Mas o incrível é que ele, com seu contorcionismo aéreo, conseguia se desviar das línguas mortíferas dos sapos. Fantástico, mesmo! Depois que ele atravessou o brejo, pousou numa sombra para descansar um pouco. Eu não aguentei... Tive que ir até lá para perguntá-lo como ele fazia o que fez. Sabe o que ele me disse? O Owlfly me disse que tinha se aconselhado com um louva-a-deus, e que depois disso todas as coisas começaram a dar certo.
– Ah, não sei, não! Será que um louva-a-deus é tão esperto assim? Talvez se nossa sorte mudasse, mas eu ainda não vi algo do tipo – comentou Little Ant.
Eles interromperam precocemente a conversa após ouvirem um zumbido que se aproximava. Temendo ser a gangue das mutucas novamente, Little Ant e Straw resolveram esconder-se. O suspense encerrou-se quando perceberam que se tratava de uma suntuosa comitiva de uma abelha rainha.
Antes que pudessem decidir fugir ou se manifestarem, Little Ant e Straw foram descobertos por soldados batedores e encaminhados à presença da rainha abelha.
Enquanto a rainha aguardava uma novidade que lhe extinguisse o tédio, apreciava, desmedidamente, mel e geleia real. Essa glutonaria foi abandonada quando noticiaram a ela a captura dos estrangeiros. A rainha ficou entusiasmada com a possibilidade de distrair-se com boas histórias, mas se isso não se concretizasse, já havia um procedimento padrão para um espetáculo de combate entre os intrusos e o carrasco besouro rinoceronte.
Informada previamente dos fatos, e sabendo do grande perigo que corriam, Little Ant resolveu não confiar a tarefa da oratória a Straw, isso por imaginar que a falta de credibilidade do percevejo poderia resultar num fim trágico. 

(Wesley Rezende)

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