Archive for maio 2011

Seção Poema — Cante, ó alma!

segunda-feira, 30 de maio de 2011 § 0

Cante, ó alma!

João, ou você
José,
pese o amor.
Este fiel
é fiel?

E agora,
cante!
Na tua alma
há música
constante?

O vosso testemunho
é amargor de poço
fundo, cavado sem
necessidade, enchido
pela escravidão.

As vossas ferramentas
não são instrumentos
musicais harmônicos!
O vosso trabalho enfadonho
sustenta este orgulho hediondo.

Querem comer mel?
Derramem o fel em taças!
As taças de cólera
ficarão cheias,
e vossas almas limpas
— se tentados,
não tornem a tomá-las!

Atentai! Minhas palavras
são melhores do que a
vossa vã filosofia.


Wesley Rezende

Dístico — Anverso

domingo, 29 de maio de 2011 § 0

Anverso

Claras luzes envolviam o branco de brilhos negros
— reflexo do opaco espelho numa imagem invisível


Wesley Rezende

Seção Poema — Indrisos

sábado, 28 de maio de 2011 § 0

Indrisos

Indeciso rio, liso siso sinuoso
Risos, júbilos de praias goianas
Driblando pedras e cordilheiras verdes...

Índio, negro, branco, bichos e mitos
Durante belos passeios hidrográficos
— isomórfica arte de vidros vívidos

Insere amor entre montanhas desabitadas!

Só divisas reunidas por sentimentos úmidos


Wesley Rezende

Sobre a Teoria dos Signos

terça-feira, 24 de maio de 2011 § 0

Os signos são os meios pelos quais o homem expressa seu sentimento diante da realidade. Os signos não são apenas códigos aleatórios. Existe uma relação bilateral entre o homem codificador e o código. Os signos formam um conjunto sistêmico que retratam as influências sofridas pelo homem no ambiente. Dessa forma, são nomeados os objetos naturais e os objetos abstratos, produto do contato social entre homens ou da observação emotiva de coisas concretas.
Cada signo é carregado do valor significante quisto pelo seu manipulador. Cada objeto pode requerer ou inspirar a criação de vários signos, semelhantemente, cada signo pode evocar diversos objetos — concretos e/ou abstratos. Ao mesmo tempo, a língua pode descrever estritamente a realidade e criar novos conceitos que influenciam ou modificam essa realidade.
A atividade de enunciar é o que evidencia a existência de algo. A prática linguística é o que transporta o conhecimento do mundo imaginário para o mundo real; é o que permite compartilhar, paulatinamente, os produtos da utilização dos atributos inatos do ser. A prática linguística é, também, o que transporta os significados dentro do mundo real; significados estes que dão sentido a ele.
O signo é composto de significante e significado. Ambos podem ser divididos em forma e substância. O significado é a interpretação humana de um objeto; o significante é a exteriorização do significado mediante um símbolo. A forma do significado é caracterizada pela sistematização hierárquica do valor conceitual dentro do conjunto total existente — a Língua. A substância do significado é o conceito que está expresso relativamente ao contexto. A forma do significante é constituída a partir da discriminação fônica. Dessa forma, estabelecem-se relações opostas para melhor se categorizar os sons.  A substância do significante é o som que ecoa na mente ao contato com o signo.
"Para Saussure, o signo linguístico é arbitrário e, portanto, cultural" (Fiorin, 2010: 60). A arbitrariedade do signo é a falta de correlação entre significado e significante, no processo de criação do signo. A inspiração que o significado exerce sobre o homem codificador produz significantes imprevisíveis e inexplicáveis. É a partir da aceitação na sociedade, ou convenção, que, mediante o convívio com o signo, o significado e significante se aproximam. O exercício da repetição linguística permite extrair da memória o significado sempre que o significante é citado. Dessa forma, estabelece-se o signo — união entre som e sentido. Entretanto, podem existir signos derivados de outros já existentes. Nesse caso, os signos são relativamente motivados.


REFERÊNCIA
FIORIN, José Luiz. Teoria dos signos. In______. Introdução à Linguística. FIORIN, José Luiz (org.).  6. ed. revista e atualizada, São Paulo: Contexto, 2010. p. 55-74.

Wesley Rezende

Seção Poema — Livre

segunda-feira, 23 de maio de 2011 § 2

Livre

Ainda existe alguém
que se alegra
com as coisas
boas da vida?

Ainda existe alguém
que se contenta
em ler algo
simples?

Ou é necessário
escrever sobre
ódio, vingança,
medo e sangue?

Por acaso
os poemas devem
aprovar a
maldade humana?

Por acaso
é bom sentir
pavor?


Wesley Rezende

Dístico — Geada Branca

sábado, 21 de maio de 2011 § 0

Geada Branca

Cedinho, o sol revelou negrura:
campos mortos pelo branco da noite.


Wesley Rezende

Dístico — Distraída

sexta-feira, 20 de maio de 2011 § 0

Distraída

No vaivém do bem-te-vi te vi sorrir.
No céu além, seus olhos aquém se iam...


Wesley Rezende

A Manutenção da Personalidade

§ 0

 A riqueza de diversidade é valorizada enquanto o homem não fez suas escolhas. Após isso, quando a dúvida já não existe e o amor em algo específico extingue a vontade de mudar, toda diferença social se torna inútil.
No entanto, o sentimento de satisfação na personalidade construída é, às vezes, baseada na comparação discriminativa com os opostos. Com isso, a dependência na existência de diferenças continua forte.
A incapacidade em homogeneizar opiniões na sociedade, e o medo de um mundo desconhecido em que não haja diferenças, obriga o homem a adaptar-se.
A partir disso, muitas vezes é necessário subjugar a própria vontade ou opinião em prol do convívio social. Mas em um confronto de ideias podem ocorrer vários outros resultados. Dentre eles, a demonstração da inconstância no caráter de um indivíduo. Então, percebe-se que há necessidade de proteger pessoas com pouca maturidade contra as influências das diferenças culturais.
Portanto, é importante ter consciência da necessidade da censura e legalidade na sociedade. E também é importante existir perspectivas na contribuição individual para melhorar a comunidade, sendo fiel à própria personalidade.
Tudo isso é prova do amor ao próximo e da vontade de aproveitar a vida ao máximo.

Wesley Rezende

Seção Poema — Ego

§ 0

Ego

Dois a dois
mediam o velho amor

O velho se fez novo
O velho não morreu

Cada um
media seu próprio amor

A dupla se desfez
De amor velho padeceu


Wesley Rezende

Dístico — Dia Ruim

quarta-feira, 18 de maio de 2011 § 2

Dia Ruim

Dia ruim raiou riscando rosas reinantes.
Ditas trevas tristes truncaram tronos translúcidos.

Wesley Rezende

Os Fãs do Show Guerra ao Terror

terça-feira, 3 de maio de 2011 § 0

Dez anos após o atentado ao World Trade Center, finalmente as incessantes buscas ao terrorista Osama Bin Laden terminaram. O senso de justiça americano está se aperfeiçoando. Antigamente prendia-se o acusado e entregava-o a um tribunal internacional. Foi assim com Saddam Hussein; preso pelos norte-americanos e entregue a julgamento, foi morto. Tudo muito transparente e legítimo, até a venda dos olhos da Justiça caíram para que pudesse assistir a execução de Saddam — um show que causou náuseas a muitos, e despertou certa dúvida quanto à imparcialidade dos fatos, mas ficou apenas em dúvidas. Osama, pelo contrário, foi julgado e executado pelos americanos. Com talento formidável uniram a justiça e a vingança; e por essa capacidade ser de extremo valor guardam somente para si, junto com as imagens do cadáver. No entanto, dessa vez a sociedade não aprovou a ação. Na verdade não se importa se mataram o artista do terror, mas não admite que não se publique num reality show. A sociedade não quer julgar, mas não abre mão do direito de especular.

Wesley Rezende

Seção Poema — Inverno

§ 0

Inverno

Eu não sou palhaço
pra ter nariz vermelho
— nariz vermelho
que não transmite alegria
como o deles

Tenho que esquentar
o leite
e nem posso tomar
sorvete

Meus pés e mãos já são
gelados
E agora tudo esfria
lá fora
pra me deixar
aprisionado

Meu coração tropical
desfalece
a minha língua
queima
as minhas mãos
se escondem

e num espirro
vai-se embora
meu bem-estar


Wesley Rezende